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Poesia

03/05/2012

PAZ E AMOR

 ( Maria Aparecida Felicori – “Vó Fia” )

Os anos sessenta e setenta

Chegaram, descansaram e se foram

Agora se lembra e não se agüenta

A saudade a tristeza e a dor…

Naqueles alegres anos dourados

Os hippies alegraram o mundo

Pregaram uma utopia por todos os lados

De felicidade paz e amor profundo.

Com suas coloridas e esvoaçantes túnicas

Seus longos cabelos enfeitados

Suas bijuterias de beleza única

Caminhavam e cantavam enfeitiçados…

O amor estava no ar

Era tempo de paz e não de guerra

O som dolente de suas canções

Enchiam os ares as almas e a terra.

Amando e não guerreando

Todos se sentiam irmanados

Naquela paz se sentiam amados e amando

Era o êxtase sem futuro sem passado…

Mas o tempo não para por ninguém

Voando ao sabor do vento

Os felizes anos passaram também

Sessenta setenta se perderam no tempo.

O século também mudou

De vinte para vinte e um

A mudança nos assustou

Dos hippies não sobrou nenhum…

Agora são tempos novos

Muita guerra e pouco amor

Onde está a paz dos povos?

O vento guerreiro rodopiou e levou.

01/05/2012

TANTOS DIAS

(Hérica Capanema)

 

O olhar entre os olhos de tantos dias

De tantas viagens sem volta para lugar nenhum

E alguém diz que é possível

Romper os laços e encontrar a Deus.

A presença que se move na ausência

A fome saciada de um toque

A voz que diz as palavras certas

E descansar…

Das feridas que sangram sem doer

No amor que move a cada minuto a certeza de ser

O olhar que falta e preenche o vazio

O vazio envolvente e profundo da alma

Como um dia perdido junto ao mar.

01/01/2012

MOTIVO

(Cecília Meireles)

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

07/11/2011

PROCURA-SE UM AMIGO

(Vinícius de Morais)

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos. Que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

28/10/2011

O TEMPO E AS JABUTICABAS

(Rubem Alves)

‘Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir
estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de ‘confrontação’, onde ‘tiramos fatos a limpo’.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: ‘as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse

amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.’

O essencial faz a vida valer a pena.

14/10/2011

QUEM FOI QUE DISSE?

(Hérica Capanema)

Quem foi que disse

Que o mundo caminha?

Isso não acontece!

Ele fica aí, parado,

Preguiçosamente, observando nossos passos

Que apressadamente nos desencaminham

E colidimos nossos olhares como quem sonha.

Quem foi que disse

Que tem que ser assim?

Embalagens pra viagem em nossos sentimentos

Reciclagem de gente, de água, de bicho

E seguimos nos movendo ao acaso

Tolos, como quem precisa aprender a sorrir.

Quem foi que disse?!

Quem disse que as palavras são o que são?

Que as pessoas são o que são?

Quem foi que disse que o mundo nos pertence?

E colidimos nossos corpos e sequer trocamos olhares

Reciclando a vida e embalando os sonhos

Pra viagem.

 

5 Respostas para “Poesia

  1. Endh Lander

    30/10/2011 at 12:16 am

    “Quem foi que disse Que o mundo caminha?
    Isso não acontece! Ele fica aí, parado,
    Preguiçosamente, observando nossos passos..“

    Sensacional! Realmente somos frutos dos nossos atos!

     
  2. Ana Maria da Silva

    02/11/2011 at 8:37 pm

    Lindo poema!
    Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse

    amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.’

    O essencial faz a vida valer a pena.

    Hoje estou vivendo esse tempo… o melhor tempo!
    Acredito que a minha bacia de jabuticabas está na metade… Quero apreciá-las sem pressa, com prudência, sem perder tempo com futilidades.Quero viver simplesmente…

     
  3. silvia david mendes

    20/01/2012 at 11:21 pm

    Não nos restam muitas jabuticabas. #fato

     
  4. Maria Aparecida Felicori

    01/05/2012 at 9:31 pm

    oi Herica, adorei essa página , tem tudo de bom e bonito, parabéns. Será pretenção minha, querer colocar um poema meu junto dessas mentes luminosas? Me diga você. Beijos da tia Fia

     

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