Desabafo! No fundo eu acreditei…

Semana que vem retomamos as aulas de capelania e confesso que estou profundamente incomodada com o que estamos fazendo com o que é ministrado lá.

É impressionante observar o quanto as pessoas estão cada vez mais egoístas e egocêntricas na atualidade. Mesmo aqueles que teriam, por força do que professam, que ser mais humanitários e atentos aos que estão ao seu redor passando pelas mais diversas necessidades.

Sei que a vida não está fácil pra ninguém, mas também sei que quando queremos realmente fazer algo, quase sempre atendemos nossos desejos e fazemos disso uma prioridade. Penso que parte do problema deve-se ao culto à imagem e aos julgamentos precipitados sobre os outros. Nunca é nosso problema o problema do outro; o meu próximo fica muito confortável bem longe de mim. Lembro-me então da parábola do bom samaritano (Lucas 10:30-37).

Muitos sabem que no dia 18 de maio deste ano faleceu tragicamente meu ex-marido, pai da minha única filha de 8 anos. O funeral só aconteceu no dia 30 de junho, quando depois de muitas dificuldades o IML liberou o corpo. Os mesmos sabem que há um ano estou afastada do trabalho e fazendo tratamento por causa de uma cirurgia na coluna que me deixou uma lesão na medula que compromete minhas atividades mais básicas. E para completar, estou em meio a uma mudança de residência que me exige um investimento que, a princípio, seria feito pelo meu ex-marido em função de oferecer condições mais confortáveis para mim e minha filha. E aqui estou eu… Comprometida fisicamente, financeiramente e emocionalmente com situações que não planejei jamais. E qual não foi minha surpresa quando alguns “amigos” próximos me questionaram sobre o que eu e minha filha herdamos e o quanto estamos usufruindo dos bens e dinheiro deixados para nós.

Pois aqui vai a resposta, publicamente: Nada! Desde maio não tenho a pensão da minha filha, visto que o INSS ainda dará início ao processo conforme laudos e documentos do acidente no final deste mês. Não há bens, nem seguro, nada!

Então, na minha quase ingenuidade em pensar que poderia pedir socorro aos meus amigos e irmãos, mandei um e-mail e fiz uma publicação no facebook onde eu humildemente pedi ajuda. Não pedi dinheiro para ninguém. Mas, confiei na minha convicção de que ninguém é tão pobre que não tenha nada para oferecer. Precisava de serviços, material de construção, apoio… Graças a Deus tenho casa, carro, família que me apóia, mas isso não significa que não tenho necessidades urgentes e atuais, indiferente destas coisas.

Para ser honestíssima, tive resposta de quatro dos 130 “amigos” que receberam a mensagem, e a estes meu sincero reconhecimento.

Sendo assim, venho através deste desabafo dizer que, infelizmente, mais uma vez pude ver que todo o meu esforço para significar alguma coisa boa e transmitir a mensagem de que devemos sempre ser solidários, amáveis, preocupados com as lutas dos outros, foi em vão.

Chega a ser estranho pensar que só valemos pelo que temos a oferecer, e quando pedimos nos tornamos inconvenientes, aproveitadores, murmuradores e outros adjetivos do tipo.

Obrigada, “amigos”, pelo amor que não me dedicaram neste momento, pelo juízo temerário (formado sem aquela madura análise que deve preceder todos os nossos julgamentos) a respeito do meu apelo, pela total indiferença dos que simplesmente ignoraram, pelos que prometeram e nunca cumpriram  e, por fim, pela demonstração clara de que a única certeza de que não estamos sós e desamparados vem de Deus, que nunca falha e que tem me levado a experimentar o doce sabor da dependência dEle.

E vamos em frente!…

Hérica Capanema

Pastora, teóloga, jornalista, capelã e ser humano